domingo, dezembro 31

Despedida



Despeço-me do ano velho com obra feita por duas pequenas mãos que contribuem, deste modo, para o crescer do Farrapos. Quem melhor do que eles para o fazerem por mim?
A quem aqui vem, e toma o cuidado de nos ler todos os dias, mesmo que não publiquemos com tal periodicidade, o meu desejo de um 2007 a baloiçar entre o polegar e o mindinho.
Desfirem-lhe com toda a vibração que vos aprouver.

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Título Pear Knot

Riscos de Jessica, 8
Coloração de David, 5






terça-feira, dezembro 19

9



Alguém que tenha a bonança e a tempestade num mesmo olhar; olhar pousado no infinito de visão 360º; se sente comigo, de pernas cruzadas, no pedregulho do alto da falésia, e se atreva a cavar um fosso.



19 Dez. 2006



sexta-feira, dezembro 8

8



É quando me entrego a tarefas simples - como passar a ferro ou descascar ervilhas -, que me sinto atingir verdadeiros estados de iluminação. Toda a energia parece ficar concentrada no interior onde uma enorme caldeira entra em ebulição, os movimentos exteriores são meramente mecânicos.
Talvez isto explique porque este mundo actual carece tanto de luminosidade.



quinta-feira, dezembro 7

7



Há misturas efervescentes. Outras, explosivas.
Mas de pouco ou nada vale ser o bicarbonato na ausência de líquido.


segunda-feira, dezembro 4

Vidas sem título




No decurso dos séculos, nota-se um crescendo de dias assim : solitários.



E nesse abandono de dias, verifico que o medo, em mim, já se não processa do mesmo modo.


6



É a pronúncia do olhar que (a)trai.

terça-feira, novembro 28

5



Onde está o futuro?

(Está nos olhos de quem não teme)

Não me olhem assim e respondam-me: ONDE ESTÁ O FUTURO?!


terça-feira, novembro 21

4



Falsas modéstias engravidam-me o cérebro.


segunda-feira, outubro 30

Convocação



"Gosto do vento mas só quando o procuro."

É esta frase uma das.
Daquelas que resistem; das que servem de trave-mestra; das que respiram união. E foi essa a frase que a levou a sentar-se ali. Ali em cima da mesa de madeira acinzentada pelo tempo, de pernas cruzadas.
Procurava-o.
De costas viradas para o ocaso, tinha os olhos cravejados na fonte, na nascente de toda a luz. Fustigava-lhe as costas - o vento -, parecia querer dizer-lhe algo, mas ela não mostrava qualquer receptividade. Esbraveceu, ele. Começou gradualmente a levantar a voz; aquele vozeirão todo fazia tremer a natureza minutos atrás tão calma. Engrossou o tom com que a chamava; revolvia as folhas já caídas de dias, devolveu-as à queda, ao vôo solto de serem raínhas por instantes apenas. Remexeu os braços expessos das árvores anciãs até que elas chiassem Escuuuta-ooo. Mas ela mantinha-se sentada - quase nem pestanejava - no meio de todo aquele alvoroço.
Não se sabe se impávida, se serena, se desatenta, se revoltada, se inquieta, se todas as emoções contidas num pequeno tubo de ensaio - nem mesmo eu que aqui a conto o sei.

- As mensagens são geralmente bem melhor escutadas e compreendidas de permeio com o caos -

E quando alguém a questionou Que fazes aí?, respondeu Penso.




quinta-feira, outubro 5

3



In that past, now long forgotten, we were the doers.
In this present, we can probably call ourselves the thinkers, although we might not realise to what extent we truly are.
How about the future? What will we become in the ages to come?



segunda-feira, setembro 25

2



Grande parte de "todo o mal", é nos acharmos com capacidade para amar.

15 Set. 2006



sábado, setembro 16

1



Estarei eu preparada a ser aquilo que sou?



quinta-feira, agosto 31

Há sons assim



Os acordes não estavam a brilhar cá dentro, mas a letra "I'd rather feel the pain than nothing at all" foi a bofetada necessária para despertar quem já não dormia dias a fio.

O tal nothing é que é fodido, e cada vez paira por mais tempo e muito mais amiúde.

terça-feira, agosto 22

-1



Serão desencontros propositados ou simplesmente rasgos de tempos descompassados?*




(*resgatado de um pedaço de papel esquecido no fundo de uma gaveta)

sábado, agosto 19

A ruminar



Desde que me lembro saber ler que tenho este hábito, um entre alguns, mas por ora e aqui só fica aprovado este. Costumo olhá-los ao longe, deitados, de modo a poder saborear em primeiro plano o nome, assim de lado, e, entre aproximações, tanto físicas quanto mentais, tento entrever a história por detrás do título que o deitou às prateleiras. O tempo histórico, as personagens, os riscos calculados ou não a que se entregam e com quem e porquê e a polpa da fruta que estou prestes a saborear. Deito-lhe a mão e sopeso-o.
Abro ao calhas e leio a passagem onde os meus olhos caiem pela primeira vez.



- anda comigo
e levaste-me para a cama. Enroscaste-te em mim e começaste
a coçar-me as costas, muito devagar. Dormimos muitas e muitas
vezes assim - e nunca, nem por um segundo, pensámos em fazer
aquilo a que os inocentes chamam sexo. Falávamos muito disso,
sim - desse acto a que as pessoas vão chamando sexo ou amor
consoante as conveniências e as circunstâncias. Esse acto que as
pessoas vão repetindo até à mais exaustiva solidão. Nós não podía-
mos prescindir um do outro. Não podíamos entrar no infinito jogo
finito do corpo. Derramei sobre a tua vida, por incontáveis noites,
os meus breves amores perfeitos, pormenor a pormenor. E tu der-
ramaste sobre a minha as tuas paixões impossíveis, impossíveis
de apagar. Desejo-te tanto, ainda.



página 109
Pedrosa, Inês.Fazes-me falta.




Não retrocedo as folhas. Por esta passagem me fico, por enquanto, enquanto que o baque tilinte cá dentro.



Hiatos



"we shall speak in music"



sexta-feira, agosto 11

Da névoa




Quando se segura a vida na ponta dos dedos como a um cordel.
Esticar, mais, menos, com que frouxidade deixar que caia ou, de súbito, provocar-lhe um repentino esticão?
Sei como fazer tudo isto, com ou sem consciência de.

Mas... quem segura a outra ponta?



sexta-feira, julho 28

Sinais




Ou melindres de perseguição.
São, por vezes, colagens inesperadas que se aderem defronte dos olhos e nem as sacudindo, como o fazemos às moscas, elas se afastam.
Ainda não refeita do acordar e, enquanto me debatia mentalmente no pesar de acções, assimilar de sentimentos adormecidos, medir distâncias que nem sequer o são; os olhos caem sobre duas cartas de jogar - daqueles jogos em que monstros se debatem uns com os outros e onde a minha inaptidão é notória - deixadas ao acaso e por acaso por mãozitas brincalhonas em cima da mesa. Super Stamina e Sacrifice, assim se chamam as ditas. Não pude deixar de sorrir.
E de chorar. Quando o último som que ouvi a sair da radio, à partida, me dizia no te vayas.
E de me maravilhar. Quando adivinho o tema que se iria ouvir do grupo que tinha sido acabado de anunciar.


domingo, junho 11

Os fetos tomam conta quando os afectos deixam de existir.

domingo, junho 4




E há aqueles que sacrificam uma felicidade que se vem cinzelando com traços firmes, por um momento de loucura, momento esse que não se mede por segundos.
A esses enlevados, toda a minha admiração.


sexta-feira, junho 2




Há quem necessite de sugar e outros há que, nessa mesma escala e insistência, precisam que os suguem.

Uma mera questão de equilíbrio.



Tradução da escrita abaixo




Foi há tempos que me cruzei com um certo comentário, num blog de que agora nem me recordo "há alguns anos atrás também era gótica...".

Não pretendo negar a cada um a sua maneira de viver e sentir o que acontece na sua vida, nem acho que a minha seja O modo, só que ao ler tal frase algo cá dentro abanou.
Não consigo depreender este estado como sendo passageiro: Ou se é, ou nunca se foi; não há passagem nem retrocesso. Mas isto sou eu em sê-lo.
Quanto a mim, ser-se gótico vive-se no, e para o, interior. É todo aquele que constroi um reino dentro de si porque se vê impossibilitado de o erigir na realidade que o rodeia--e isto provavelmente nada significa a quem me lê, a não ser para mim, porque o sinto.
Daí aquele aparente vazio. O vazio visível.
No meu imaginário os seres vagueiam nus sem artefactos ou artifícios exteriores, porque a imagem é o ruído de fundo, o que está a mais, e quanto menos ruído, mais preenchida será a essência do ser.
Restringida, desse modo, ao imprescindível.

Mas isto sou eu.



quinta-feira, junho 1

No ser-se gótico

Ou melhor: No meu ser gótico.


(
















)

Não é gralha nem falta: Não me esqueci do texto.
Mas nem por isso está vazio.





sábado, maio 27




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Sobras




n/a


Adendado a 28 Maio.

"olha... dá-me um conto"




O outro, dei-to. Fazes dele o que assim quiseres. Este, é-nos oferecido.


Os olhos faíscavam-lhe de emoção. Como que possesso por uma força sobrenatural, ele cavava, cavava cada vez mais fundo, a eito, sem rumo. Encorpado por uma alegria infantil de quem come a sua primeira cereja ou recebe aquele beijo tremido de adolescente ou como quem pesca uma beata do pó do caminho e a fuma às escondidas. Cavava o homem no esplendor do seu regozijo enquanto elas começaram a sair sem que ele desse conta. Uma após outra, de mansinho no começo, com folguedo logo após. Pulavam e fugiam. Flutuavam ao seu redor , davam risadas de menina travessa e ele alheio a todo este esplendor.
"como pudera este utensílio ter estado resguardado todo este tempo?"
O suor toldava-lhe a visão, ardia-lhe a fantasia. "tem desígnios superiores, estou crente disso".
Até que a fadiga o começa a atingir e a sulcar-lhe a alma, a cavar-lhe olheiras profundas no seu propósito. E foi aí que as reparou. Demasiado tarde, todavia. Apercebeu-se da sua desregra e tentou alcançá-las, às ideias. As puras, as absolutas.
Na correria, no seu passo desordenado, nem se dá conta do estado em que leva a mente: côncava, escavada, vazia.
Reza a lenda que agora foi inventada, que, até hoje, nunca mais o homem foi o mesmo. Elas voltam, sim, lá de quando em vez regressam elas ao berço. Não para lhe dar tréguas, mas sim para que ele sofra cada vez mais com a lembrança da perda.



quarta-feira, maio 24

Diálogos



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Idos e lidos



"Onde estão as guerras?"
05-03-2006





As guerras agora resumem-se a um punhado de ninharias. Ter o nariz enfiado num livro, trocar o 5 pelo 9 na paragem de autocarro; embarcar no erro e desembarcar na contra-mão. Correr contra o vento gelado que me fustiga o rosto, enregela-me as órbitas e me faz rosnar entre dentes «malditos tempos, estes!!».
Aos poucos, o ânimo de luta esvai-se.
Não se sente glória alguma na batalha, e isto talvez o seja, em grande parte, porque o nosso oponente é sempre o mesmo: invisível e sempre triunfante.
O tempo.

17 Março 2006


Hipótese A




Não é nenhuma surpresa. As modas são o que todos nós sabemos e estamos habituados: chegam depressa e mais depressa morrem - umas mais depressa que outras. Há também aquelas - geralmente as que mais depressa desaparecem - que têm a faceta de retornar ligeiramente deformadas, alinhavadas a novas curvas de ideologia e fisionomia, para serem de novo aceites.
A mim, não é a moda em si que me atrai, mas sim todo um espectáculo a que se pode assistir daqui da bancada, sem necessariamente me interessar pela integração. Por vezes atrevo-me a desafiar-me tentanto antever novas modas mesmo antes que elas ameacem aparecer.
E as modas desfilam sempre e sempre porque o povo é guloso e sabe-lhe sempre a pouco o já muito que tem.
(tem piada que eu vinha falar de blogs e já me estou a perder...)
É isso, os blogs.
Será que daqui a um curto tempo, veremos nas bancas, editado em papel, caixas de comentários de determinados blogs?
(ou já existe e nem estou a par?)



sábado, maio 20

2046



"In love you can't bring on a substitute"

10
100
1000

"Love is all a matter of timing.
It's no good meeting the right person too soon or too late"



sexta-feira, maio 19

Sem rumo




n/a


Adendado a 28 Maio.

Laranjinha laranjão dá um gominho para São João*



Numa altura em que nunca se ouviu falar tanto de umbiguismo como esta, em que as mútuas acusações desfilam contínuas e sem cessar; noto, no entanto, que aos meus olhos os umbigos que se contemplam não são, afinal, os próprios, mas sim o dos outros.


* E assim se cantarolava, com o dedo indicador enfiado no umbigo da laranja.


quinta-feira, maio 18

Do tudo e do nada



... uma toalha axadrezada.



Submergir



Estás errado.
Eu nunca estive presa em mim.
Até agora.

O que nunca tive foi a exposição deste poço negro que existe cá dentro e que tanto pode revelar. Uma vez retirada a tampa que lhe escondia a abertura, é imperativo o mergulho.



quarta-feira, maio 17

Migalhas



Nunca esperaram algo um do outro. Era esse o lema que os regia.
No dia em que ela decide partir, ele segue-a.

Não suportou a ideia de vir a ter que esperar que ela regressasse.


domingo, maio 14

Cifras e cifrões



Talvez esteja na hora - histórica - de aparecer uma outra pedra de Roseta que ajude a decifrar todas as parábolas existentes e que, até ao presente, sempre foram interpretadas mediante o sabor de quem as quis ler ou saber.


Na marra



Nunca compreendi muito bem essa expressão "ser advogado do diabo".
Precisará ele de alguma defesa, uma vez que sempre foi tão extensa a sua lista de seguidores?

segunda-feira, maio 8



As bisbilhotices alimentam as veias e reproduzem-se na saliva de quem as ouve.



sábado, maio 6

(Dead by Dawn ou System?)













(que espaço necessitas para desenvolver... chega este?)

terça-feira, maio 2

Aparte



Não sei se é por ser do modo que sou - sou uma péssima conversadora no sentido da fala -, se é por viver numa esfera que se rege por outro tipo de comportamentos. Seja lá porque razão o seja.
Faz-me uma enorme aflição quando vejo debates na televisão.
Há um crescendo na actuação dos intervenientes, e com isto deliro, mas o que não suporto mesmo, é a falta de consideração enorme que existe nesses tais diálogos. Consideração, tanto para com quem se fala como para quem escuta.
A dada altura, no tal píncaro do crescendo, entre muitos "senhor-doutor-xis-que-até-enjoa", introduz-se a tal balbúrdia de palavras vindas de uma, duas, três e até quatro bocas ao mesmo tempo.
Se isto é conversar para se entenderem e melhorarem condições de vida, já não me admiro nada da contínua falta de conhecimento do nosso povo em geral.


- Que bem que fala aquela jornalista!! (ou doutor, ou político, ou ou...)
- ... que disse ela?
- Não sei ao certo!! Mas agrada-me a garra que tem!



segunda-feira, maio 1

Conspiração vil



É como se existisse uma mão gigantesca a pôr e dispôr destas peças que somos nós. A abrir e fechar caminhos, tanto criando muros intransponíveis como outros que se desfazem com um leve sopro, como num sonho ao acordar.
Isso! Vamos oferecer-lhes a doçura de se saberem um ao outro no mundo. Vamos dar-lhes a quase possibilidade de que os seus espaços se toquem para depois alargarmos, ali mesmo, o fosso. Tenebroso. Negro. Imenso. Que lhes engula para sempre esses sonhos ridículos da permanente procura "desse algo" que tão bem eles sabem existir.

quinta-feira, abril 27



Rasgando a medo a noite dos meus silêncios.

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quinta-feira, abril 20

Barreira de som



e ao som.

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Sem querer quebrar.

sábado, abril 15

Escaladas




“Situa-te!”
Pediram-me. Assenti.
Sentei-me no topo deste morro.
Se morro? Não. Não há morte a sentir.
Minto. Há. Mas neste momento o vazio isola.
De costas erectas, olhos postos num só ponto, a visão é
agora unilateral; um de cada vez, ponto por ponto, não tenho
estofo para açambarcar o todo. O todo que daqui melhor se avista,
renego-o. Não há cores, só cinza e cinza pó. Sinto os ventos de mudança
a acariciar-me o rosto; as partículas empoeiradas circulam-me, acumulam-se
à minha volta, pedaços meus e teus. Fecho os olhos. Não sei o que me virá parar ao colo.




éméle

segunda-feira, abril 10

Do nada



(rocks make people spend time together)

Transparência



É como caminhar sobre vidro. Avistar as verdades e mentiras sem poder sequer tocá-las e, no mesmo instante, sentir o passo seguinte dado nessa plataforma transparente, frágil, insegura, falhar; sentir o pé tocar no vazio e afundar, afundar, afundar até aterrar de novo no mesmo vidro. As tripas tocam o céu da boca nessa queda-viagem.
É assim a perdição em que me sinto.
Nada do que ele me diz me trás segurança - e por isso mesmo me atrai demasiado!.
Tudo o que me diz vem mais tarde a afirmar como atoardas.
Atordoa-me!
No entanto, no meio de tantos dizeres, há algo indefinido que insiste em ficar, e não é bem x ou y do que ele afirma sentir e mais tarde desmente, mas sim um sentir latente nas suas palavras como um todo, que fica gravado em mim.
E é isso que me dá segurança. É isso que faz com que aterre de novo no tal vidro e continue a caminhada.

sexta-feira, abril 7

Posso contar



... contigo para um conto?

Aliás, o pedido estende-se também a quem nos venha a ler e a mim própria.
Damo-nos o tempo que for necessário para colocar ideias e palavras em conjunto (desde que não demoremos meses ou anos ;-) ).
Tenho esta frase em mente já há um bom pedaço de tempo e, agora mesmo ao abrir o blog, tive esta ideia relâmpago de que daria um bom mote para um pequeno conto.


A lua deita-se com o norte.


É esta a frase.
Vale?

:-)



quinta-feira, abril 6

Uma das faces do alento



O tempo que entremeia os nossos "contactos", cada vez mais esporádicos, é uma membrana elástica que nos une. Fazemos ricochete um no outro, e, após embate, somos propulsionados em sentidos, na maior parte das vezes, opostos. E é neste percurso solitário que este tempo absorve sensações de nós - nossas - tornando cada vez mais substanciosa e consistente a membrana.

sexta-feira, março 31

Dia pessoal da poesia



Aqui e hoje abro uma rubrica que poderá vir a ser preenchida amiúde ou espaçadamente, conforme a veia pulsar - ou melhor, as veias :-) .

__________________________________


Desencontros


Corpos que se encaixam
mas vontades não
Dedos percorrem-lhe os seios
firmes, rijos e prenhos
de ilusões
Exploram-lhe as curvas
descem-lhe ao âmago
fértil, pulsante, revolto
de emoções
Abstrai-se,
abandona o corpo,
refugia-se aqui
onde estas linhas
brotam pela primeira vez
- que palavras rimam com puta e perdão? -
Palavras obscenas
cobrem-na, penetram-na, esvaziam-na
Ele com as mãos ordena «Fode!»

éméle

segunda-feira, março 27

Duelas-me?




Não. Não acordei sobressaltada exorando em castelhano o que me vai cá dentro; apesar de ter quase a certeza de que uma boa parte de mim chora pelo galaico que outrora fui. Bato-te sim na face com uma luva branca e espero-te aqui, de pena em riste.
Se soubesse ao que te desafio, de bom grado to diria, mas a verdade é que nem isso sei; por isso torna-se num duplo desafio.
A partir deste excerto abaixo transcrito, aplica-me um golpe qualquer, respinga ao tema como melhor te aprouver, nem que seja com reticências.



«Os Lusitanos são hábeis em emboscadas e perseguições, ágeis, espertos e dissimulados. O seu escudo é pequeno; transportam-no suspenso à frente com correias. Andam também armados de punhal e faca.
Praticamlutas ginásticas e exercitam-se para o pugilato, a corrida e as batalhas campais.
Todos estes habitantes da montanha são sóbrios, dormem no chão e usam longos cabelos como as mulheres.
Alimentam-se de bolotas, que secam e são moídas para fazer pão. Bebem cerveja e vinho, que é pouco.
Em lugar de moeda praticam a troca de espécies ou dão pequenas lâminas de prata.»


Estrabão,
Geografia (adaptado)




sábado, março 25

Fio de Ariadne





Somos farrapos.
Soltamos farrapos de nós.
Lançamos farrapos na trilha da vida que percorremos, como rasto, indícios para os que vêm - para nós mesmos?.
Farrapos teus e meus e de muitos outros eus que ecoam e ressoam no silêncio entre-paredes, na procura, iluminacão, esclarecimento.
E cada fenómeno por descobrir e já descoberto, tem varias facetas; múltiplas dimensões: elas dependem sobretudo de como e quão forte a luz nelas incidir - e sim, depende acima de tudo da abertura do olhar que a analisa.

Vamos levantar o pano?
Ver o que se esconde por detrás dos teus, meus e de muitos outros eus farrapos que juntos perfazem este tapete que se estende a perder de vista.

Não nos esqueçamos essencialmente de que "haverá sempre mil e nenhuma questão".