Desde que me lembro saber ler que tenho este hábito, um entre alguns, mas por ora e aqui só fica aprovado este. Costumo olhá-los ao longe, deitados, de modo a poder saborear em primeiro plano o nome, assim de lado, e, entre aproximações, tanto físicas quanto mentais, tento entrever a história por detrás do título que o deitou às prateleiras. O tempo histórico, as personagens, os riscos calculados ou não a que se entregam e com quem e porquê e a polpa da fruta que estou prestes a saborear. Deito-lhe a mão e sopeso-o.
Abro ao calhas e leio a passagem onde os meus olhos caiem pela primeira vez.
- anda comigo
e levaste-me para a cama. Enroscaste-te em mim e começaste
a coçar-me as costas, muito devagar. Dormimos muitas e muitas
vezes assim - e nunca, nem por um segundo, pensámos em fazer
aquilo a que os inocentes chamam sexo. Falávamos muito disso,
sim - desse acto a que as pessoas vão chamando sexo ou amor
consoante as conveniências e as circunstâncias. Esse acto que as
pessoas vão repetindo até à mais exaustiva solidão. Nós não podía-
mos prescindir um do outro. Não podíamos entrar no infinito jogo
finito do corpo. Derramei sobre a tua vida, por incontáveis noites,
os meus breves amores perfeitos, pormenor a pormenor. E tu der-
ramaste sobre a minha as tuas paixões impossíveis, impossíveis
de apagar. Desejo-te tanto, ainda.
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Pedrosa, Inês.Fazes-me falta.
Não retrocedo as folhas. Por esta passagem me fico, por enquanto, enquanto que o baque tilinte cá dentro.
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