sexta-feira, março 31

Dia pessoal da poesia



Aqui e hoje abro uma rubrica que poderá vir a ser preenchida amiúde ou espaçadamente, conforme a veia pulsar - ou melhor, as veias :-) .

__________________________________


Desencontros


Corpos que se encaixam
mas vontades não
Dedos percorrem-lhe os seios
firmes, rijos e prenhos
de ilusões
Exploram-lhe as curvas
descem-lhe ao âmago
fértil, pulsante, revolto
de emoções
Abstrai-se,
abandona o corpo,
refugia-se aqui
onde estas linhas
brotam pela primeira vez
- que palavras rimam com puta e perdão? -
Palavras obscenas
cobrem-na, penetram-na, esvaziam-na
Ele com as mãos ordena «Fode!»

éméle

segunda-feira, março 27

Duelas-me?




Não. Não acordei sobressaltada exorando em castelhano o que me vai cá dentro; apesar de ter quase a certeza de que uma boa parte de mim chora pelo galaico que outrora fui. Bato-te sim na face com uma luva branca e espero-te aqui, de pena em riste.
Se soubesse ao que te desafio, de bom grado to diria, mas a verdade é que nem isso sei; por isso torna-se num duplo desafio.
A partir deste excerto abaixo transcrito, aplica-me um golpe qualquer, respinga ao tema como melhor te aprouver, nem que seja com reticências.



«Os Lusitanos são hábeis em emboscadas e perseguições, ágeis, espertos e dissimulados. O seu escudo é pequeno; transportam-no suspenso à frente com correias. Andam também armados de punhal e faca.
Praticamlutas ginásticas e exercitam-se para o pugilato, a corrida e as batalhas campais.
Todos estes habitantes da montanha são sóbrios, dormem no chão e usam longos cabelos como as mulheres.
Alimentam-se de bolotas, que secam e são moídas para fazer pão. Bebem cerveja e vinho, que é pouco.
Em lugar de moeda praticam a troca de espécies ou dão pequenas lâminas de prata.»


Estrabão,
Geografia (adaptado)




sábado, março 25

Fio de Ariadne





Somos farrapos.
Soltamos farrapos de nós.
Lançamos farrapos na trilha da vida que percorremos, como rasto, indícios para os que vêm - para nós mesmos?.
Farrapos teus e meus e de muitos outros eus que ecoam e ressoam no silêncio entre-paredes, na procura, iluminacão, esclarecimento.
E cada fenómeno por descobrir e já descoberto, tem varias facetas; múltiplas dimensões: elas dependem sobretudo de como e quão forte a luz nelas incidir - e sim, depende acima de tudo da abertura do olhar que a analisa.

Vamos levantar o pano?
Ver o que se esconde por detrás dos teus, meus e de muitos outros eus farrapos que juntos perfazem este tapete que se estende a perder de vista.

Não nos esqueçamos essencialmente de que "haverá sempre mil e nenhuma questão".